domingo, 13 de junho de 2010

Diálogos entre o Sol e a Lua


.(Ao som de Under a Violet Moon - Blackmore´s Night, Here comes the sun – Beatles ou “Moon is up” – Rolling Stones)

Ao pé de um morro, sentado e encostado em uma jabuticabeira, Sr. F observa o seguinte diálogo que acontece no fim da tarde:
Sol (se pondo) – Até mais Dona Lua
Lua (se impondo) – Já fizeste seu trabalho hoje ?
Sol – Não posso te dar esta resposta. Cansado estou e sinceramente não me preocupo com isso.
Lua – Pois como pode descansar sem ter feito por completo suas obrigações ?
Sol - Não tenho obrigações.
Lua – Nota-se...
Sabe,Sol, estou preocupada.
Sol – O que te causa isto ?
Lua – Toda noite ouço reclamações de ti, que tu vens causando cada vez mais doenças, queimaduras, que estás cada vez mais esquentando e assim prejudicando a todos...
Sol – Creio humildemente que não posso responder por tais acusações.
Lua – Digo que tu és um egoísta.
Sol – E posso saber por quê?
Lua – Pois se não deixas que a chuva regue as plantas, alimentos. Pois se derretes a gelada moradia dos solitários amigos nosso do Norte. Pois se nem deixas que as pessoas olhem para ti por muito tempo! Ainda, causaste doenças e incômodos...
Sol – Eu...
Lua (interrompendo) – Tu não passas de uma estrela vaidosa e egoísta! Queres aparecer e brilhar cada vez mais forte, longevo, como se ninguém o conhecesse.
Sol – E como tu (enfatiza o Sol) te definirias?
Lua – (se infla e declama em voz alta) – Eu, eu sou um ser cintilante, inspirador. Os maiores poetas vi surgir, a mim é que recorriam. É comigo que casais perdem a vergonha e a pureza e ganham a intimidade. Não transmito doenças, curo, guio. Eu ilumino a solidão e a desigualdade, torno menos triste a noite de quem não ganhou a piedade. Transmito a paz e o sossego, peço...o silencio.
Sol – Se é assim, então me vou tranqüilo. Pois confesso que por um momento pensei em me reavaliar.
Lua – E o que te tranqüiliza?
Sol – Pelo que dizes.
Tua única preocupação é se mostrar bela, presente. Não tens que alimentar ninguém, não tens que acordar ninguém, não consegues iluminar sozinha uma cidade, ou uma casa sequer. Aposto que não sabes qual tua finalidade. Tu és triste. Inspira os solitários porque assim também és. Não queres ajudar ninguém, só que te notem e que façam algo. Tu és a verdadeira egoísta.
Agora me dê licença pois tenho de ir, amanhã tenho de irradiar ainda mais, pois se hoje aqueço mais é porque de mim assim exigem.
A Lua, cheia, mingua. Vira meia e torna seus ouvidos aos boêmios.
Sr. F volta para casa, não sem antes regar seus girassóis.

Um comentário:

  1. pois é.. cada um com suas qualidades.. =)
    adorei o post!! muito bem escrito!
    bjs.

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