segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Fi-lo porque qui-lo


Para se ler e raciocinar um bucadinho

Escrito por Bruno Medina


Reconheçamos: muitas invenções, por mais criativas e inovadoras que sejam, por mais praticidade e conforto que possam trazer à vida de seus adeptos, ainda assim, possuem aspectos detestáveis. Tome por exemplo o chuveiro elétrico; certamente aí está uma ideia capaz de revolucionar a rotina de seus usuários, sobretudo daqueles que residem em regiões frias e que estavam acostumados a não se banhar com muita frequência durante o inverno. Formidável, não?

Agora transporte-se para aquele banheiro gelado na serra, do chalé do seu amigo. O corpo nu e arrrepiado, implorando por cada uma das gotas que caem fervendo no topo de sua cabeça. Você as deixa escorrer pelos ombros, espalha com as mãos, tentando, em vão, aumentar a superfície de contato com a pele, mas o desconforto é impeditivo. Ao final, tendo os cabelos ainda embebidos de condicionador, você decide encerrar a tormenta, mandando lembranças à mãe do sujeito que inventou aquela merda, com o perdão da expressão.

Em suma, o chuveiro elétrico é um advento com potencial para transformar uma experiência edificante (o banho) numa patética tentativa de se lavar, desprovida de qualquer dignidade.
(E tem mulher que termina com o marido só pra ter um desses em casa)

Quer outro exemplo? Restaurantes “por quilo”. Onde estava com a cabeça o cidadão que inventou isso? Fico imaginando em que circunstâncias o indivíduo é levado a pensar: “por que não criamos umas baias repletas de comida preparada em proporções gigantescas, e deixamos as pessoas passarem escolhendo o que querem, remexendo a bacia com uma mesma colher até que tudo fique disforme?

(momento para olhar pra foto, e pensar)

“Daí os clientes entram numa fila e ficam se empurrando com um pratinho na mão, odiando-se uns aos outros por demorarem demais para escolher suas porções ou por pegarem aquele último palmito que antecede a reposição. Quando estiverem servidos, eles passam por uma balança, escolhem uma bebida e sentam-se numa mesa minúscula, cercados de estranhos,(esse preconceito me lembra um amigo que todos os dias reclama das pessoas que frequentam os restaurantes) para botar tudo pra dentro da forma mais rápida possível e liberar o espaço para uma nova leva de clientes. Na saída, a gente posiciona um caixa com chocolatinhos, para raspar aquelas moedas que sobraram no bolso, distribui um chá de abacaxi com erva doce e você vai ver como eles voltam no dia seguinte!”

Pondo nesses termos, é difícil acreditar que a proposta tenha colado, mas … O fast food de slow food não só tornou-se popular como, atualmente, em determinadas localidades, o desafio é encontrar um restaurante que não siga a fórmula. Talvez o momento mais lastimável da jornada de um habitual frequentador de restaurante por quilo é se deparar com a repetição dos pratos, numa escala uniformemente variável. Reparem que há certas combinações, a princípio ilógicas, que com frequência retornam. Num que eu costumo almoçar, por exemplo, toda vez que tem batata rostie, tem carré e chucrute. Nunca entendi o motivo por detrás da engenhosa composição.

Também é sempre um pouco triste quando alguém na cozinha se empolga e desanda a batizar as opções do menu com nomes supostamente elegantes. Que tipo de sensação espera-se obter de uma plaquinha em que se lê “purê trifásico”, ou mesmo “surpresa de frango”? Dá vontade de dizer: “amigo, não me venha com galhofagem. Não tente me causar a impressão de que restaurantes desse tipo estão associados a algo além da mera conveniência. Não me fale em liberdade de escolha! Aliás, quem disse que eu sei montar um prato?”. Daí você olha pra cima e está escrito “Qui-loucura”, melhor não falar nada.


Bruno Medida é músico da banda Los Hermanos, e escritor nas horas vagas.

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4 comentários:

  1. batuta o texto. vou ler o blog dele.. =P
    bjs.

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  2. HAHAHA... O pior é as pessoas te verem come... e aqûele galho de rúcula que você achava que caibia na boca de repente fica pra fora e você tem que fazer manobras bovinas pra raze-lo de volta pra dentro da boca...
    É a vida como ela é!

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  3. hahahaha, cláaaaassica, sempre filosofo a respeito.
    E de quarta-feira,, para inovar? temos feijoada! olha que surpresa... aquele feijãozinho com paio e carne de sol que eles fazem com que todo mundo acredite que é uma digníssima feijoada.
    #MeDivirto!

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