A Copa da África

     Quando foi anunciado que a Copa do mundo de 2010 iria acontecer na África do Sul muito se disse que seria mais que uma Copa na África, seria uma Copa da África, o continente estaria sendo representado no país de Mandela. Vemos que a Copa é da África na organização da competição quando, apesar da boa vontade dos anfitriões, problemas do cotidiano africano não cessaram durante o torneio e atormentam turistas e organização. Violência, maus tratos com trabalhadores ( foi o caso das pessoas que trabalham na segurança ou como voluntários da competição), descaso com moradores locais (chegando a níveis de segregação urbana) e trânsito caótico, aí uma característica mais particular da África do Sul.

     Percebe-se que a Copa é da África quando vemos na maioria dos jogos muitos lugares vazios nos estádios (exceção parece que aconteceu no jogo da Inglaterra, mas estes acompanhariam a seleção até na Patagônia caso fizessem uma Copa da terra do fogo ou do fim do mundo). A explicação aqui não está no desinteresse por parte dos africanos na Copa do mundo, eles simplesmente não tem dinheiro para comprar ingressos tão caros, para se ter uma idéia cerca de 43% dos sul-africanos ganham menos de 2 dólares (cerca de 3,4 reais) por dia, menos de 60 dólares por mês(cerca de 102 reais). Além do ingresso tem a questão da viagem e hospedagem, não se vê um grande número de turistas mesmo de países relativamente mais próximos como a Nigéria, pais cuja renda per capitã é de 260 dólares (cerca de 442 reais), para complicar ainda mais hotéis estão cobrando taxas quase abusivas, fazendo com que muitos dos turistas apenas vejam o jogo do seu time e voltem para seus países.

     Por fim, a Copa é da África quando se vê o retrospecto dos times africanos no torneio até agora, apenas uma vitória, seis derrotas e uma seleção já eliminada. Apesar de na teoria estarem jogando em casa são seleções que em comum até agora apresentaram um futebol pragmático e com muita deficiência nas finalizações a gol. Mais que isso a cada Copa que passa fica mais claro que não se tem continuidade no trabalho dessas seleções, a cada quatro anos vemos apenas uma seleção africana se destacando (casos de Gana em 2006, Senegal em 2002 e por aí vai) não existe uma seqüência, são seleções que dependem de talentos que brotam esporadicamente pelo continente, a esperança que surge de um trabalho e de uma regularidade boa vem da Costa do Marfim, que aparentemente está procurando investir na base de seus garotos, quem sabe novos Drogbas possam surgir, esta é a esperança da Costa do Marfim, a seleção que é a esperança africana, na Copa da África.