domingo, 6 de junho de 2010

Memória Cinematográfica


Sexta-feira faz chuva e sol, as raposas estão se acasalando e não querem que ninguém as perturbe[1], mais uma vez acordei atrasado para ir trabalhar, o relógio da porcaria da televisão estava errado, acordei vinte minutos mais tarde com a moça do tempo falando em nuvens, neblinas, sombras[2], dia da marmota[3] e outras coisas que não faziam o menor sentido na minha cabeça que latejava. Minha sobrinha de um ano e meio não me deixou dormir, chorava, esperneava e se debateu até que seu carrinho descesse as escadas[4] e encontrasse meu vizinho, um senhor que essa semana irá receber uma honraria na universidade que leciona, por seus anos, aliás, décadas de carreira, é alguma efeméride, acho que são cinqüenta anos[5]. Ninguém se machucou apesar de meu vizinho ter achado que tinha quebrado o fêmur, mas, já esperava algo semelhante vindo dele, hipocondríaco irritante que uma vez causou tumulto porque pensara que uma mancha escura em sua camisa se tratava de um melanoma.[6]
      Apressado, preferi ir tomar café ao lado de uma joalheria[7] que tem perto do trabalho,  já na empresa percebi um clima de agitação, era dia de entrevistas para contratar novos empregados. Lembro me bem como foi minha entrevista...Uma serie de perguntas estúpidas e invasoras, logo de início a pessoa quis saber a minha data de nascimento, eu lhe informei, aí então o cretino inquiriu: “qual a sua idade?”[8], não agüentei e depois de um “faça as contas oras”  ,  preferi responder da maneira mais protocolar possível os outros questionamentos, afinal, precisava do emprego.
     Saí para almoçar um pouco mais tarde que o habitual, o restaurante já estava cheio, achei que mesmo assim conseguiria almoçar sozinho quando vi uma mesa vazia, mas, logo depois de eu me acomodar, veio um casal que pediu licença e se sentou na minha frente.  Não satisfeitos em compartilhar somente a mesa começaram a discutir sua relação, até o marido dizer: “E aquele caso que você teve não conta?”, a esposa retrucou: “Caso? Não foi um caso, foi apenas um breve interlúdio de infidelidade, e, aconteceu há anos!”[9], depois disso preferi deixar os dois a sós, guardei meu chocolate[10] para o jantar[11] e voltei pro serviço.
     Pouco antes de ir embora tive que protocolar um documento no palácio dos bandeirantes, nunca havia entrado lá, muito bonito, uma moça chamada Silvana[12] me acompanhou até a sala em que eu deveria ir, uma excursão que me lembrou o filme “A Arca Russa”[13], um lugar enorme, com muitas estátuas e ornamentos, tudo muito branco e brilhante, além disso, havia uma escada bem parecida com a do hotel de “O Iluminado” (versão Kubrick)[14].     
     Bom finalmente após isso pude voltar para casa e assim terminar de ler “Adeus Meninos”[15], não sei se sou aquele que sabe viver[16] e se isso foi interessante mas é assim que me lembro do dia de ontem, e, poderia lembrar bem mais e melhor se não tivesse doente e me sentindo frágil tal como Abacuc em sua ultima jornada[17].

                                                              Sábado, 25 de Junho de 2010

Por Vlad Galli

Bom, estou postando aqui o mesmo texto que escrevi em outro blog hoje, por coincidência do calendário tinha que postar aqui e no blog das 30 pessoas, como este texto deu trabalho postei o mesmo nos dois, mesmo com a excusa do trabalho dado peço desculpas pela charlatanice, para ficar menos igual neste blog já postei o texto com as referências que usei, diferente do blog das 30 pessoas. 



[1]  - Sonhos, Kurosawa – 1990 – Frase do primeiro ou segundo sonho, que a mãe diz para o garoto que mesmo assim a desobedece e vai para o bosque.

[2] - Neblinas e Sombras , Woody Allen– 1992 – título do filme invertido

[3] - Feitiço do Tempo, Harold Ramis – 1993 – O personagem de Bill Murray que é um repórter vai até aquela cidade para cobrir o dia da marmota

[4]  - O Encouraçado Potemkin, Sergei Eisenstein – 1925 – Famosa cena da escadaria de Odessa, que foi imitada dezenas de vezes, nunca com o mesmo impacto e perfeição.

[5]  - Morangos Silvestres , Ingmar Bergman – 1957 – é um pequeno resumo da história do filme, do personagem principal ao menos.

[6] - Noiva Nervosa, Noivo Neurótico, Woody Allen – 1977 – Personagem vivido por Woody Allen faz algo semelhante

[7] - Bonequinha de luxo, Blake Edwards – 1961 – Título em inglês – Breakfast at Tiffani’s  - Café, joalheria...

[8]  - O Posto, Ermanno Olmi – 1961 – Acontece algo semelhante no filme, aliás excelente filme, recomendo, dificílimo de achar, assiste em uma mostra sobre o Neo-Realismo

[9] - Tudo pode dar certo (Whatever Works) , Woody Allen – 2009 – No inicio do filme dá-se um conversa semelhante entre o personagem principal (Boris ( e sua ex-mulher)

[10] - Chocolate, Lasse Hallström – 2000 – Título do Filme


[11] - O Jantar, Ettore Scola – 1998 – Título do Filme

[12]  - Arroz Amargo – Giuseppe de Santis – 1949 -  Nome da personagem e da atriz principal (Silvana Mangano), outro filme muito bom, não tão conhecido no Brasil.

[13] - A Arca Russa , Russkij Kovcheg, 2002

[14] - O Iluminado, Stanley Kubrick - 1980

[15] - Adeus Meninos, Louis Malle – 1987

[16]  - Aquele que sabe viver, Dino Risi – 1962

[17]  - O Incrível exército de Brancaleone, Mario Monicelli – 1966 – Nome do velhinho judeu e avarento que morre no filme.

5 comentários:

  1. Vlado, muito bom texto, apesar de você ter usados algumas palavras um pouco difíceis, e como eu estava com preguiça de ver no dicionário, acabei não entendendo algumas coisinhas hehehe depois você me explica no msn, já que aqui não é lugar de bate papo, rs, mas é um bom texto, continue assim ! beijinhos

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  2. Excelente memória cinematografica. Da minha pessoa o que seria sem o Google.

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  3. excelente texto!! parabéns vlad!!

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  4. Ah Vlad, fala sério, vc copiou isso de algum lugar hahah

    Parabens

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